Salessuir

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Goiás, Brazil
Com este nome dá para pensar que sou única, né? E sou,embora saiba que exista pelo menos uma outra salessuir por este mundão de meu Deus.Dela tenho esta única informação.De mim sei que já vivi o suficiente para saber de muita coisa e o bastante para entender que falta muito por aprender. Até que a Morte diga: Chega!
Direito de ir e vir daqui pra lá e de lá pra cá, não é ser livre... É gaiolar.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Mandinga

Minhas costas doem.
Acordada na madrugada.
Desconjuro, pé de pato ou de vento, Manoel de Barros 3X
"Tudo que não invento é falso."
"Tem mais presença em mim o que me falta."
"O meu amanhecer vai ser de noite."

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Dane-se!

la la laia, 
la la la laia, la la la laia,
lalalaia lalalaia, 
la la la laia, la la la laia,
laia...
             la...
                     la.




segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Calma


Se mística fosse
E acreditasse em reencarnação
Em outras vidas cometa ou meteoro era,
Apaguei-me mais rápido do que o esperado.
Retorno... Volto...
Volto...
 Retorno...
               
Inadimplente...

 Outras vidas, mesmas dívidas...
Passo rápido pelas gentes  e por causa do brilho intenso
Apagam-me num zás – trás.
Se perdeu o inesquecível espetáculo,
Marque encontro daqui a cem, mil, cem mil anos...
Me verás...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Faces and books

Em que penso agora?
Que querem ler minha mão,
como se importassem a eles a minha vida inteira.
Que eu calce um sapato floral, de gosto duvidoso,
só porque é primavera...

Querem acabar com minha barriga em simples clics à direita.

Ainda bem que do lado esquerdo estão os amigos...
ao centro   os abraços...
as saudades...
as imagens, móveis ou não, de afeto e coração.
AINDA BEM!!!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Coisas de Salé: Minininha

Coisas de Salé: Minininha: Para Gaby, que me pediu para contar uma história com 5 irmãs. Não é esta, mas não resisti em contar pra ela algo que ouvi enquanto espera...

Minininha


Para Gaby, que me pediu para contar uma história com 5 irmãs.
Não é esta, mas não resisti em contar pra ela algo que ouvi enquanto esperava alguém que se atrasou. Tem tanta literatura boa, andando por ai,  entre nós - pobres mortais!...


Maria Vitória é Minininha desde quando nasceu, depois do João Pedro, do João Miguel, da Maria Januária, do João Neto, do João Francisco, da Maria Amélia e da Maria Lúcia. O pai dela escolheu o nome Vitória porque ela lutou muito para estar neste mundão de meu Deus. Maria, assim como  João, nomes da mãe da mãe e do pai do pai de Minininha, não eram negociáveis.   
O pai, ocupado com a labuta da roça e preocupado em criá us minino tudo com decência, sem passá fome, pra sê gente de bem era a única coisa que importava nessa vida, não tinha tempo de i lá na cidade registrá a fiarada. Prometeu que quando nascesse a Maria Inês ou o João Paulo, ia dá um jeito de colocar no cartório toda sua prole. Não teve os tempos: o tempo de chamar um dotô quando a parteira quase não deu conta de desatravessar João Paulo e Mariadasdô, fraquinha, fraquinha... Morreu. Intransitivamente morreu. Não teve mais tempo algum. Nem o tempo da tristeza viveu direito porque tinha de fazer por onde não dar nenhum dos Joãos e nenhuma das Marias pra ninguém. Mesmo que fosse parente. E Minininha ficou menininha sem mãe.  Miuda, um tiquinho assim de gente, tinha preocupações de gente muito grande. Grudada na saia de Maria Amélia sentia tanta vontade de ajudar o pai a cuidar de todo mundo, ainda mais no dia, depois que Maria Januária foi embora com o homem do caminhão das bananas e o pai ficou amuado pelos cantos, secando uma lágrima ou outra.
Num ano, em que as coisas eram difíceis, mas iam andando devagar com a força de Deus, João Paulo não insistiu mais em viver depois que pegou uma quizila de gato. O pai quase vai junto.  Por isso Minininha não gosta mais de cachorro e gato. Só gosta de planta, porque lembra a mãe dela cuidando das plantas todas ao redor da casa. 
Foi neste mesmo ano que a mulher da padaria convenceu o pai de Minininha em deixá-la ir para a cidade. Para aprender um serviço. Prometeu que todo sábado e domingo, Minininha viria para a casa do pai e dos irmãos. Minininha pensou, matutou e argumentou com o pai que ela poderia ajudar na casa. A mulher disse que pagaria por semana e depois que ela tivesse o dinheiro todo reunido ia dar pra ajudar. O Pai concordou porque Maria Vitória era muito positiva. Isso era isso e Assado era assado.  Foi uma choradeira só.  As dores unem as pessoas e os jõaosemarias restantes eram pregadinhos.
Como prometido, Minininha foi visitar o pai e os irmãos depois de quinze dias, depois de aprender a lavar todas as formas da padaria bem lavadinhas, sem deixar uma sujeirinha sequer; varrer todos os cantinhos, não quebrar pratos, porque ficaria sem comer se isso acontecesse; depois de experimentar refrigerante de laranja por primeira vez com rosca de ontonte; depois de lavar seu colchão no riacho que passava no fundo da padaria, com os olhos rasos d’água e ao som das risadas dos empregados, sob a batuta da dona que regia a todos contando como a imundice, lesa e come-e-dorme tinha mijado na espuma. Ela iria aprender: Dormiria no chão até o colchão caro secar. Quatro dias demorou uma eternidade de muita vergonha e tristeza. Mas agüentou firme. A miudeza dela enganava o povo.
Só o perfume das rosas do jardim, igualzinho ao perfume da sua mãe, era bom. Do resto ela não gostou, muito menos de quando ouviu a mulher, dona da padaria,  querendo ser dona dela também: A minha menina nem nome têm. O pai ficou sozinho no mundo com uma escadinha de gente e nem registrou as crianças.  Pobre do jeito que é me dá Minininha fácil, fácil. Uma boca e uma preocupação a menos. Vai é me agradecer a caridade que estou fazendo. Vida e gente madrasta! Ainda bem que o pai não tinha inventado de arrumar alguém para por no lugar da mãe.
O pai ouviu e viu a pavonice toda da dona granfina: que Mininiha ia estudar, que isso, aquilo e aquilo outro, Teria muitos vestidos pra usar, continuaria a visitar os irmãos e o pai. Disso ela fazia questão. Em troca só queria que Minininha  ajudasse na padaria nas horas vagas  para não ficar a toa, com a mente desocupada. E pra ficar melhor ainda, registraria Minininha no nome dela. Era ou não era um tratamento para uma filha?
E no tempo em que criança não tinha voz, só o olhar. Minininha olhou não para o pai e o pai entendeu o recado. Disse pra dona da padaria que Maria Vitória era o nome dela. Que além de nome, ela tinha pai e irmãos ainda que não tivesse mãe. E que ele tinha dado sua palavra de homem pra Dasdô de que nunca iria separar os joãos das marias até que eles escolhessem onde e como se separar uns dos outros. E quando a dona da padaria entrou no carro ele ainda gritou que nem só de rosca e broa vive o ser humano.
Maria Vitória cresceu vivendo muitas outras histórias como Minininha. Viu Joãos irem e vir. Umas Marias ficaram e outras casaram.  Teve Maria que se perdeu na vida. Teve João que deixou de viver.   Seu João Amâncio já se encontrou com Maria das Dores, nem viu todos os netos nascerem. Tem um bocado de João no meio deles e agradece a Dona da padaria por tê-la ensinado umas coisas que só mãe ensina. Se não fosse a receita daquela rosca que ela aprendeu lá na padaria, não teria conquistado seu marido que lhe deu só dois filhos, bons meninos: João Amâncio neto e Felício da Dona Minininha. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Baseado em fatos reais


Determinação

Para o Arnaldo Júnior - gente miuda responsável.
Mais que muitos, rotulados como adultos. 

Angélica é uma capetinha. Com ela nem exorcista pode.
Do Menino Maluquinho, herdou as atitudes. Da mamãe, herdou os grandes olhos para enxergar melhor.
A farta cabeleira vermelha, toda cacheada, acreditem, herdou do papai.
Para não atrapalhar a vista, todo o cabelo é preso por fitas, bichinhos e marias-chiquinhas. As fitas para prendê-lo, não herdou de ninguém. É vovó Alice e a tia Manuela que abastece sua caixinha de enfeites de cabelo. Um trabalho sem fim, porque todo dia ela perde pelo menos duas da mesma cor. O Curupira e o Saci carregam outro tanto. A azul, que prendia um rabo de cavalo, ela tirou e amarrou no rabo do gato. Explicou que antes tentou fazer um coque, no rabo do danado, mas o ga-to-to quase morreu-reu-reu. Se não fosse a Dona Chica....
Do alto de seus seis anos de muitíssima experiência, sabida que ela só, já descobriu que quem não chora, não mama. Que bracinhos cruzados e biquinho de preocupação e arrependimento acalma o papai se, por exemplo, ela enxugar o leite derramado com a gravata preferida dele. A capetinha sabe ser anjo.
O anjo, com o rosto todo salpicado de pintinhas, entre as duas mãos, deitada de bruços, pés balançando pra lá e pra cá , pra esquerda e para a direita, desenhando círculos no ar, folheava um livro, passeando na floresta, seguindo a sapa com laço enorme na cabeça, indo para a festa lá no céu. Encontrou o grande Jacaré. Correu para o colo da mamãe e, para disfarçar o medo, disse para ela que já era hora de ir à escola, porque aprenderia a ler e escrever direitinho umas coisas para aquele boca aberta.
No primeiro dia de aula fez uma revolução na casa. Antes de ir a aula e assim que chegou de lá: olha meu caderno, a tia disse isso, eu fiz aquilo e fiz assado, meu coleguinha chama Samuel, ganhei uma tarefinha, a Aline também é minha coleguinha, uma menininha chorou muito, prega meu desenho na geladeira, lanchei tudinho e a musiquinha do sapo não lava o pé soou pela casa até na hora do banho.
No segundo, terceiro, sexto, vigésimo dia só não era a mesma coisa porque a musiquinha mudava todos os dias. Numa quarta-feira... O bicho pegou. Na escola fez uma revindicação:
              -Quero minha demissão!
A professora corrigiu:
              -Você quer dizer permissão. Para que você quer uma permissão?
              -Não, não. Eu me demito dessa escola. Onde pego meus materiais?
Ela não ia deixar aquela massinha toda, tanta tinta e lápis de cor. Já sabia como ia decorar a parede novinha da sala de casa. A professora fingiu seriedade:
              -Demissão tem de ter explicação.
Angélica tinha aprendido com a bruxa como fazer cara de má. Estava elaborando um feitiço. Mais forte do que o da Bela Adormecida. Fechou a cara. Emburrou. E como um burrinho pedrês, empacou. Veio a Professora que não era a tia, a mamãe e a tia Manuela - tia de verdade e pau-para-toda-obra. A vovó só não veio porque estava na filio...fisino... fisiotera alguma coisa, onde era dobrada e esticada três vezes na semana para ficar novinha.
               -O que você aprontou desta vez, Angélica?
               -Estou é desaprontando! Me demito! Não aguento tanta tarefa! 
         -Mas Angélica, foram só dois exercícios: a tarefa do A e a do O. Justificou-se a professora enquanto a mamãe fazia aquela cara de 'já basta' para a filha e tia Manuela só gargalhava por dentro. Tão por dentro que ninguém de fora via. Nem Angélica que tinha visão mágica.
Com o dedinho em riste, para cima e para baixo, Angélica, hoje, deu a discussão por encerrada:
             -A senhora passou muito mais, hein! Muito mais! Prometendo voltar amanhã só na hora da novidade, porque ela era muito responsável e já tinha combinado de trazer uma coisa bem legal para mostrar aos coleguinhas .